“Ainda Estou Aqui” é um filme brasileiro de 2024, dirigido por Walter Salles, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. A obra retrata um período sombrio da história do Brasil: a Ditadura Militar, com foco na história de Eunice Paiva, mãe do autor, e sua luta incansável pela verdade após o desaparecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva.
Sinopse:
No início da década de 1970, em meio ao endurecimento da Ditadura Militar no Brasil, a família Paiva, composta por Rubens, Eunice e seus cinco filhos, vive no Rio de Janeiro. A vida da família é abruptamente interrompida quando Rubens é levado por militares à paisana e desaparece. A partir desse momento, Eunice inicia uma busca incessante por informações sobre o paradeiro do marido, enfrentando a repressão do regime e se transformando em uma ativista em defesa dos direitos humanos.
O filme se passa durante a Ditadura Militar (1964-1985), um período de repressão política, censura e violações dos direitos humanos no Brasil. O desaparecimento de Rubens Paiva, um importante político, reflete a violência e a arbitrariedade do regime, que perseguia opositores e impunha o medo na sociedade.
Diferentemente de outras obras que abordam a Ditadura Militar, “Ainda Estou Aqui” foca na experiência de Eunice Paiva, interpretada magistralmente por Fernanda Torres. A narrativa não se centra na figura de Rubens Paiva, o marido desaparecido, mas sim na jornada de uma mulher que, abruptamente, se vê confrontada com a violência do Estado e a necessidade de lutar por justiça. O filme acompanha sua transformação: de dona de casa a ativista, de esposa a viúva em busca de respostas. Essa escolha narrativa humaniza a tragédia, permitindo que o público se conecte com a dor e a resiliência de Eunice.

O filme opta por não exibir cenas explícitas de tortura ou violência física. O horror da Ditadura é apresentado de forma mais sutil, através do medo constante, das ameaças veladas, do silêncio ensurdecedor e da angústia da incerteza. Essa abordagem não diminui o impacto da violência, ao contrário, a torna ainda mais perturbadora, pois sugere o que está oculto, o que não pode ser dito. A ausência de Rubens Paiva, a lacuna deixada por seu desaparecimento, é uma metáfora da própria violência da Ditadura: uma ferida aberta que nunca cicatriza completamente.
A atuação de Fernanda Torres é um dos pontos altos do filme. Ela entrega uma performance visceral e emocionante, transmitindo com sutileza as nuances da personagem de Eunice. Sua interpretação captura a força, a fragilidade, a dor e a determinação de uma mulher que se recusa a ser silenciada. É uma atuação que certamente ficará marcada na história do cinema brasileiro.
Walter Salles, conhecido por filmes como “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta” opta em Ainda Estou aqui por um recorte específico da história da Ditadura Militar, centrando-se em uma família com recursos financeiros e influência na mídia. Essa escolha direciona o foco para uma experiência que, embora dolorosa, inevitavelmente coloca em segundo plano as inúmeras outras histórias de sofrimento causadas pelo regime, especialmente as de famílias menos privilegiadas.

Ainda Estou Aqui (2024)
Ano: 2024
País: Brasil
Duração: 2h 15m
Direção: Walter Salles
Roteiro: Heitor Lorega, Murilo Hauser
Elenco: Fernanda Torres,Selton Mello, LFernanda Montenegro, Valentina Herszage